Não. Não sou mesmo.
Para dizer a verdade, se pudesse do avesso ser virada... não seria
uma boa coisa.
Primeiro por ser
humana. O ser humano padrão é naturalmente ruim. O que nos difere
dos ditos animais selvagens é a civilização.
No momento em que
decidimos em comunidade viver, mas mais que isso, em sociedade
civilizada viver, deixamos a selvageria e nos atribuímos a qualidade
de sermos criaturas boas.
Basta deixarmos de lado
por instantes a civilização e com isso a civilidade, que
demonstramos nossa verdadeira natureza, ruim. Alguns são tão ruins
que cometem atrocidades com outras espécies e com a sua própria.
Mas a maioria fica nas pequenas malvadezas mesmo: grosseria, falta de
caráter, traição de todo tipo, corrupções...
Mas o assunto sou eu.
Por natureza humana sou ruim.
Coube aos meus pais
desde meu nascimento (como cabe até hoje a todos os pais e mães)
civilizar-me. Educar-me com amor e sim, severidade se preciso, para
que eu aprendesse corretos valores, alinhasse minha moral, entendesse
o que, nos tempos que vivemos é o certo e o errado.
À eles se juntaram uma
boa escola católica, e religião será em breve comentada aqui, uma
convivência saudável de amizades, o Movimento Escoteiro e muitos
mais ambientes e pessoas.
Ainda hoje meu processo
de civilização continua. E principalmente porque eu tenho
consciência de minha natureza. Sei o que posso fazer à outrem e a
mim mesma se sair da linha, se soltar a besta que em todos nós
adormece.
Isso posto, guardem
essa noção na mente e acompanhem meu divagar.
Profissões e “títulos”
não traduzem a natureza de ninguém. Mais ainda, não definem o
caráter de ninguém, certo?
O fato de alguém ser
médico, por exemplo, não é prerrogativa para dizermos que ele é
uma pessoa correta no proceder, com bondade em seu escopo, com
caráter. Pode ser um médico extremamente competente em sua
profissão e ainda assim ser um pedófilo (para chocar logo).
Um engenherio pode ser
o mais “fuderoso” em construção de pontes sobre abismos e em
casa espancar esposa e filhos.
Uma CEO de
multinacional pode ser uma fera no gerenciamento de pessoas e estar
desviando dinheiro da empresa que trabalha para uma conta nas Ilhas
Cayman, vai saber.
E chegamos ao cerne da
questão. Um pastor evangélico pode ser eloquente no púlpito,
“conhecedor” de cabo a rabo das escrituras sagradas, ser o
responsável por centenas terem voltado à retidão em suas vidas.
Isso não o define como santo, não o coloca acima dos demais e
muito menos é prova de caráter!
Não sou evangélica.
Não sou católica. Sou de uma família católica, e a família do
meu marido (exceto ele) é evangélica. Meu cunhado é pastor. E
aviso logo que ele não é o assunto aqui. O assunto não é
genérico. É direcionado. Mas, se a mais alguém a carapuça servir,
que sirva para uma reflexão sobre caráter.
Mas quis o destino que
volta em meia em esbarre com pastores em minha vida. Pastores do tipo
ruim.
O que são pastores do
tipo ruim?
São aqueles que se
apresentam com o título na frente o tempo todo.
“Bom dia, sou o
pastor fulano de tal.”
Não interessa se ele
está na padaria, na loja de material de construção, no diabo que o
carregue. Ele é o pastor fulano de tal, não somente fulano de tal.
Sou arquiteta. Quando
em uma obra que vou visitar, quando vou à uma reunião de projeto,
quando estou trabalhando, costumo ser apresentada como a arquiteta.
Mas em todo o resto sou eu somente. A Maria Nolita. Porque raios o
fulano de tal tem que a todos dizer seu título (algumas vezes auto
referendado) se não está em ambiente eclesiástico? Eu digo o
porque. E digo com conhecimento de causa. Porque isso o faz parecer
acima do bem e do mal. Ele é pastor!
E se é um pastor, é
uma pessoa que tem intimidade com o divino, é alguém santificado...
Que ele e todos os que
assim se comportem se dirijam ao escorrega do capeta! Isso para ser
polida ainda.
Você é pastor? Nada
significa para mim seu título. Na verdade ele coloca sobre você uma
avaliação minha, muito mais criteriosa. Coloca você sob as lentes
de meu microscópio. E eu costumo acertar em minha avaliação de
caráter. Se ela diz que sob essa capa de pastor está um zémané
que acha que está acima dos outros, normalmente está correta.
Minha avaliação
funcionou mais uma vez. Tenho dois vizinhos pastores. Um acho que
deixou de ser, a igreja faliu. Mas é prego, para continuar na
“gentileza”. Fez umas duas babaquices, melhor, tentou fazer, foi
devidamente “alertado” de onde estava pisando, uma vez por mim,
outra pelo marido. E sábiamente botou a viola no saco e nem anda na
mesma calçada que a gente.
O mais recente até que
estava manso, sem dar muita pinta. Fez umas merdas, cruzou umas
linhas que não devia (estamos falando de vizinhança e convivência
entre vizinhos, ok?) mas eu estava aliviando pois o cara não é
daqui, meu marido ficava dizendo que provavelmente ele estava se
adaptando, não sabia bem onde tinha se metido...
Mas eu não erro. O
alerta para escrotice apitava e não queria desarmar.
Pronto. Confirmado foi.
E é da pior espécie. É aquele que fala manso, finge ser
desentendido. Liga para dirimir problemas em horários em que sabe que falará
com a esposa, com a parte fraca do casal.
Tolinho... primeiro
encarou a mim. Como disse, eu não sou boa. Não sou muito menos
mansa. Sou franca, direta e sem melindres. Tente me enrolar e passo
com um rolo compressor em suas mentiras. Depois deu azar pois o
marido em casa estava e como eu percebi que estava para sair do trilho,
passei o telefone para ele.
Com o meu marido,
combinou de conversar para resolver o tal problema, marcou dia e hora, e não deu as caras!
Muita água rolou sob
essa ponte, do tipo não abrir o portão para nos atender e ficar do
outro lado do muro dizendo que a mulher estava passando mal e ele não
podia conosco falar.
Estou com obra em minha
casa, acelerada e fora do orçamento previsto por conta das confusões dele e da imobiliária e a mulher dele fica gritando com meu eletricista para ele não
ousar andar no telhado dela. Oi? A obra é na casa dela por um acaso?
O cara está pendurado na minha varanda e ela reclama com ele?
Não somos maus
vizinhos acreditem. Somos vizinhos que não dão festas, não fazem
algazarra. Se meus cachorros começam a latir sou a primeira e ver o
que acontece justamente para ninguém reclamar do barulho pois incomoda.
Respeitamos quem nos respeita. Mas não confundam isso com mansidão,
com babaquice. Isso se chama respeito.
E eu especificamente
sou quieta. Você é pastor, pai de santo, padre, monje? Problema
seu. Para mim isso não diz nada, não fede não cheira. Primeiro você é ser humano. Homem ou mulher, ser humano.
E filho, isso não faz de você porra nenhuma, somos todos farinha podre. Poucos, poucos mesmo, salvam. Seu caráter não vem
do seu posto, da sua crença. Seu caráter vem de você. E se você é
mau caráter... não tem religião, não tem cargo, que esconda isso.
Então, se não quer
que a caixa de pandora se abra e você descubra que pior que
manifestações e capetinhas incorporados, é estar na minha linha de
fogo, não venha tentar fuder com minha paz.
Minha paciência é
curta. Tão curta para escrotice que na verdade ela nem existe.
Entrou na linha de
fogo? Levante seus escudos. A artilharia não é leve...